sábado, 21 de setembro de 2013

Tardes de domingo

Cálice

The Nam

Da série "Elas por Ela"


Da série "Noites insones"










Da série "No Faces"




Da série "Nomenklatura"







Da série "Surreal"







Um santo para os assassinos

Ele nunca vem às missas, sejam de domingo, de festas, ou quaisquer outras.

Mesmo assim, sempre vem à igreja. Acende um monte de velas no oratório, e permanece de joelhos por um longo tempo. Deve ficar rezando.

Sei disso, vejo sempre a mesma cena, porque ajudo o padre, aqui na Igreja de São Miguel.

O povo de Rio Garça comenta, na surdina, que ele é matador. Dizem que tem muitas mortes nas costas, e vem sempre à igreja para acender velas pelas almas de suas vítimas. Reza por elas, para que não venham assombrá-lo.

Coisa mais estranha. Rezar pelas almas de quem você matou. E o santo para quem ele reza, qual será?

Acho que vou perguntar ao padre Armand se existe um santo para os assassinos.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 10/12/2012.

Certas coisas terminam numa encruzilhada

Décio e Ernesto eram inimigos de infância.

Forte e abrutalhado, Décio perseguia o franzino Ernesto desde o ensino primário. Roubava o lanche de sua merendeira, rabiscava seus cadernos, colava chicletes nos cabelos e espetava as magras nádegas do colega com a agulha do compasso, já no ginásio.

Durante o colegial a coisa não mudou. Não era o caso de Ernesto aceitar tudo passivamente. Ele reagia. Tomava uma bela surra, mas reagia. Estava sempre com um olho roxo, um lábio partido, um dente mole. Sem falar nos joelhos e cotovelos sempre esfolados.

Décio, a bem da verdade, não saía incólume. Uma orelha inchada, arranhões no pescoço, e certa vez o nariz quebrado. Nessa oportunidade, Ernesto apanhou dobrado. O pessoal riu do nariz quebrado, o que deixou Décio furioso.

Na juventude, a situação entre os dois continuou ruim. Décio dava em cima das namoradas do Ernesto e infernizava o coitado de todas as maneiras possíveis. Quando chegavam às vias de fato, Ernesto como sempre levava a pior, pois Décio era grandalhão, sardento e mau caráter. Já o Ernesto, estatura mediana, magrelo, com um pomo de adão enorme e uma cara compreensivelmente amuada.

O tempo passou, Décio tornou-se açougueiro, e Ernesto, já órfão, trabalhava com um tio, numa chácara perto da cidade.

Certa tarde, Décio foi tratar da compra de um porco em um sítio próximo, montado num cavalho malhado. Ernesto saíra com a charrete para ir até a cidade comprar ração para galinhas. Os dois se encontraram numa encruzilhada das estradinhas de terra.

Logo de cara, Décio começou com provocações, e tocava o cavalho de forma a bloquear o caminho de Ernesto com a charrete. Ernesto revidou com palavras ríspidas e a eterna cara amuada. Décio se pôs a vociferar ofensas pesadas e pôs a mão no cabo da peixeira.

Ao final do conflito, Ernesto arrancou com a charrete e se foi. Com a mesma cara amuada.

Décio ficou lá na encruzilhada, e permaneceu lá ainda por um longo tempo, até que um garoto que voltava de uma pescaria no Rio Garça encontrou o corpo.

Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 07/12/2012.

Muitos gramas de chumbo na memória

O negro Cristóvão sempre vagou solitário por Rio Garça.

Oriundo não se sabe ao certo de onde, comentavam que ele havia cumprido 26 anos de pena. Quando jovem, num acesso de ciúme e fúria, matou a mulher com quatro tiros à queima-roupa. Grávida de quatro meses.

Com uma história dessas, ele que já falava muito pouco com as pessoas, era também evitado pela maioria.

Mas, mesmo sendo taciturno e dono de uns olhos velados, quase sinistros, era homem muito educado, principalmente com as mulheres, com quem se mostrava extremamente respeitoso. Todos o teriam em muito boa conta, não fosse a história do crime.

Chegou à cidade com bem mais de 50 anos, e vivia de realizar pequenos serviços, pesados ou não. Mantinha um quarto alugado na Pensão Espírito Santo, uma casa humilde. Fazia suas refeições em qualquer lugar em que fosse servida comida. Aliás, raramente era visto comendo alguma coisa. Mas sempre podia ser encontrado pelas biroscas, bebericando pinga.

Mesmo com mais de 60 anos, era um homem muito forte. Mas nunca havia se metido em brigas.

Até que em certa madrugada, não se sabe por qual motivo, envolveu-se numa confusão dos infernos com um grupo de estranhos na zona do meretrício. Quebrou o braço de um, rasgou o pescoço de outro com uma garrafa quebrada, e acabou sendo abatido por um monte de tiros, pois o grupo era grande, não era de Rio Garça, e pareciam estar todos portanto armas de fogo.

Cristóvão ficou lá no chão, crivado de balas, e o pessoal fugiu. Não só os assassinos. 

Mais tarde, quando examinava o cadáver, um policial comentou que jamais havia visto alguém com tanto chumbo no corpo.

E olha que Cristóvão já tinha chumbo suficiente na memória.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 15/11/2012.

O galope da mula sem cabeça

Ele fugiu de seu assédio o quanto pôde. 

Ele se esquivou de todas as maneiras, mas ela foi implacável. Mulher quando quer, não tem jeito.

E finalmente, naquela tarde de domingo, a carne se rendeu. 

Numa mistura de tesão e ódio, ele a possuiu com fúria, sobre a escrivaninha da sacristia.

Mas a desgraça de fato é que, em se tratando de igreja, sempre existem beatas vigilantes, ou carolas beligerantes, como queiram. 

O fato é que quatro delas irromperam na sacristia quando o padre e a pecadora estavam no final da luta.

A pecadora escapuliu, rápida como uma lebre, nua em pelo.

O padre ficou ali, de olhos baixos e bandeira a meio pau, sem saber o que fazer ou poder dizer.

Dias depois, de tão murmurado e escarnecido, o padre anoiteceu e não amanheceu. Ninguém sabe o destino que tomou.

A pecadora, dizem que pode ser vista vagando pelas estradinhas de terra circunvizinhas, em noites de lua. 

Mas, contam que não é mais bela e sedutora. Dizem que seu aspecto está muito diferente.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte ES, 29/10/2012.

E ela continuou rindo

Torquato Santiago remoía os pensamentos. 

Eu disse à minha irmã que não se deve rir de certas coisas.

Mas não adiantou. Ela continuou rindo. 

É certo que ela sempre gostou desses sujeitos machões, lutadores de Jiu Jitsu, esse tipo de caras. Mas não tinha o direito de rir de mim, só porque eu sou diferente.

E ela ria sem parar. Depois parava, ficava me olhando, e ria mais e mais. 

Todo aquele deboche só por causa de um beijo que eu dava no Fabrício, quando ela chegou de surpresa do colégio.

Eu pedi para ela parar de rir, mas ela não quis me ouvir.

Agora eu estou aqui, preso nesta camisa de lona, olhando para estas paredes acolchoadas, e me lembrando: ela não parou de rir, mesmo depois de eu ter esmagado sua cabeça com cinzeiro de granito.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 25/09/2012.

Atravessando uma noite longa

Atravessando uma noite longa eu fico pensando nas encruzilhadas onde eu poderia ter tomado um rumo diferente. As esquinas que não dobrei. As pontes que não atravessei.

Quantas vezes eu não devolvi o sorriso que me deram, quantas vezes não peguei a mão que me estenderam. Onde me levariam as escolhas que não fiz? Que alegrias e tristezas me dariam?

Me lembro também de todos os beijos e abraços que não dei em minha mãe. E hoje é tarde demais. 

Em uma noite longa a gente fica pensando e medindo o passado, fazendo perguntas que não têm respostas. As respostas só vêm com a vida. Você não pode saber como seria o que você não viveu. E as saudades, então? A maioria não tem mais jeito.

Quando a noite é longa, a solidão fica mais densa. Parece granito. E as lembranças, tristes ou não, doem mais ainda.

A coisa se complica mais quando você se lembra de um fato terrível: tudo o que nós somos são as nossas lembranças. Sem elas, o ser desaparece. O Mal de Alzheimer está aí para confirmar.

Atravessando uma noite longa, a gente descobre que ela não é tão longa assim. E a cada minuto passado, a vida fica mais curta, e a morte mais perto.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 22/01/2013.

A conta de vidro na fresta da parede

Parado na velha estação de trem, eu estava à espera de alguém, que eu já tinha a certeza, não veria mais.

Passei os olhos em volta, e de repente, meu olhar a encontrou. Na parede da estação, já corroída pelo tempo, rachada e com falhas no reboco, esquecida na fresta entre os tijolos, uma conta de vidro.

Maravilhosa visão, sob o sol do meio-dia, o prisma multicor.

Tudo parou, como se o fluxo do tempo tivesse sido interrompido, suspenso. 

Deixei de sentir o sol, o vento, a minha impaciência. Não ouvia nenhum som. 

E meu olhar ficou lá, aprisionado na conta de vidro, esquecida na fresta da parede.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 25/09/2012.

Um sol na mão esquerda

Acordei cedo e comecei a faxina: lavei todas as roupas, queimei todas as nossas fotos, joguei fora nossos CDs, usei aerossóis de pinho para apagar o seu cheiro de jasmim da memória.

Saí de casa e fui apagando nossos passos pelas ruas e os reflexos de nossos olhares nas vitrines e nos para-brisas dos carros. 

Apaguei todos os nossos sonhos e projetos, todas as lembranças. Aquelas mais renitentes, joguei no incêndio do crepúsculo. 

Só restou a tatuagem. O sol que você me convenceu a tatuar na mão esquerda.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 24/09/2012.

Besteiras... ou nem tanto

Xampu
Um amigo me perguntou como eu consigo manter os meus cabelos tão saudáveis, com a idade que tenho. Afinal, pra quem não sabe, já passa de meio século a minha jornada aqui neste hospício divino.

Respondi que existem três fatores que ajudam: hereditariedade, boa alimentação e xampu adequado.

Aí ele reclamou que o diabo com xampu é que quando entra nos olhos, arde que é um inferno.

Por isso eu falei em xampu adequado. Eu só uso xampu para criança. Dizem os entendidos no assunto que xampu infantil não arde nos olhos porque não contém sal e abrasivos.

Aí eu fico pensando: por que diabos xampu para adultos precisa ter sal? Não sou químico, mas eu uso cloreto de sódio é para temperar comida, e não como produto de higiene. E por que o xampu para crianças tem de custar tão mais caro? Afinal, se faltam alguns componentes, deveria ser é mais barato. Novamente, os entendidos no assunto dizem que é porque a tecnologia usada para produzir um xampu assim é mais complexa.

Tá bom. Escrevam idiota na minha testa. 

Sabem o que parece? os donos das fábricas de xampu devem ser crianças, tipo aquele gangster de 12 anos, daquele filme da série Robocop. E esses moleques devem andar putos com os adultos, e pensam: - certo, vocês querem andar com cabelos macios e bonitos? Tudo bem, vamos produzir ótimos xampus, mas vamos encher a fórmula de sal e ferrar suas escleróticas.

Aí alguém pode perguntar: - pô, xampu com sal vai entupir minhas artérias?

Não, meu caro. Xampu não. Carótidas são as artérias do pescoço, não escleróticas.

Então, outro pode questionar: - uai, xampu com sal vai me deixar esclerosado?

Não! Xampu não! Além do mais, isso é esclerose. Esclerótica é a mucosa do olho. Do olho que fica na cara, que fique bem claro. Só não me pergunte o porquê desse nome escroto. Eu não sei. Talvez o cientista que deu nome à mucosa já estivesse esclerosado. 

Tá, essa foi podre!

Uma hora de almoço (sambinha)
Não posso ficar
nem mais um minuto com você
sinto muito amor
mas não pode ser
trabalho lá na pqp
e seu eu não sair agora
já sei o que
vai acontecer
- pé na bunda!

Espiadinha no dos outros é refresco
Estão fazendo o maior estardalhaço com este caso da espionagem americana contra o Brasil.

Em primeiro lugar: grande novidade! Os EUA xeretam e se metem na vida do mundo inteiro desde sempre.

Em segundo lugar: dizem que eles (o Governo americano) estão em dúvida se o Brasil deve ser considerado país amigo, inimigo ou problema. - Isso eu não sei, mas no lugar deles eu também estaria preocupado. Afinal, o PT pode ser uma praga pior que a Al Qaeda.

Eta empreguinho bom!
Por duas vezes foi marcado o dia para que os desembargadores, em Vitória/ES, dessem a sentença sobre a lei que m,anda a prefeitura de Bom Jesus do Norte/ES pagar o tíquete-alimentação ao servidor. Por duas vezes a decisão foi adiada, porque alguns desembargadores faltaram à sessão.

Agora, vem cá: será que esses caras também precisam apresentar atestado médico por faltarem ao trabalho? 

Puta merda, desculpem! Eu esqueci. Eles são deuses.

Não vou na sua casa, pra você não ir na minha, você tem o olho grande... acho que errei a letra
Ainda sobre o caso da espionagem americana, a Dilma decidiu não realizar a visita de estado aos Estados Unidos. E não venham dizer que estou sendo redundante. Não tenho culpa do nome daquela bosta ser este. 

Agora, pensem bem: o Barack deve estar preocupadíssimo, não é mesmo?

Tá bom. Até parece que ele se importa com a Orc tupiniquim, ou com Los Macaquitos. - Quer dizer, no caso do Obama, vamos esquecer este último comentário. Ele não pensaria isso da gente. Não teria a menor lógica.

Sem solução para o caso do Mensalão
Gente, vamos dar um desconto para o pessoal do STF. Não dá mesmo para mandar o Zé Dirceu, o Genoíno, o Delúbio, et caterva, para a cadeia. Como disse o Danilo Gentile, no Agora é Tarde, da Band, dizem que o pessoal do PCC já até fez ameaças. Não querem essa escória do PT e associados presos lá com eles de jeito nenhum. 

Matar a corja também não resolve. O diabo já mandou dizer que devolve.

Serviço porco
A população tem reclamado muito do estado em que ficou a Rua Lourival Cavichini, em Bom Jesus do Norte/ES, após as obras de drenagem pluvial. Recolocaram o calçamento de qualquer jeito, ficou uma porcaria. E ainda por cima deixaram muita terra na via, e quando molha, temos aquele lamaçal.

Aliás, boa parte das vias públicas da cidade mais parece trilha de cabritos.

Autor: Paulo de Souza Xavier

A caminho do outro mundo

Falando sério, gente: a situação de abandono em que se encontra a capela mortuária Chiquita Menezes, em Bom Jesus/RJ, é lastimável. Uma sujeira de dar medo no local, seja dentro ou fora; sofás rasgados, garrafas pet pelos cantos, com líquidos não identificáveis, até um gato está arranchado lá.

Penso que um local que é utilizado numa hora tão difícil, merece ser melhor cuidado, senão em respeito aos mortos, pelo menos em consideração aos vivos.

Autor: Paulo de Souza Xavier