sábado, 21 de setembro de 2013

Atravessando uma noite longa

Atravessando uma noite longa eu fico pensando nas encruzilhadas onde eu poderia ter tomado um rumo diferente. As esquinas que não dobrei. As pontes que não atravessei.

Quantas vezes eu não devolvi o sorriso que me deram, quantas vezes não peguei a mão que me estenderam. Onde me levariam as escolhas que não fiz? Que alegrias e tristezas me dariam?

Me lembro também de todos os beijos e abraços que não dei em minha mãe. E hoje é tarde demais. 

Em uma noite longa a gente fica pensando e medindo o passado, fazendo perguntas que não têm respostas. As respostas só vêm com a vida. Você não pode saber como seria o que você não viveu. E as saudades, então? A maioria não tem mais jeito.

Quando a noite é longa, a solidão fica mais densa. Parece granito. E as lembranças, tristes ou não, doem mais ainda.

A coisa se complica mais quando você se lembra de um fato terrível: tudo o que nós somos são as nossas lembranças. Sem elas, o ser desaparece. O Mal de Alzheimer está aí para confirmar.

Atravessando uma noite longa, a gente descobre que ela não é tão longa assim. E a cada minuto passado, a vida fica mais curta, e a morte mais perto.

Autor: Paulo de Souza Xavier
Bom Jesus do Norte, 22/01/2013.

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