sábado, 21 de dezembro de 2013

Estórias da Árvore Criminosa

Eles já chegaram se pegando e se mordendo feito bichos. Sentaram em uma de minhas grandes raízes, e a festa sexual continuou.

Gemidos, soluços sem pranto, beijos de língua, chupões, amassos e o diabo a quatro.

- Você perdoa, amor? - Ela perguntou.

Não houve resposta da parte dele.

Respiração apressada dele, mais gemidos dela. Ele arrancou a blusa da moça. 

- Diz que perdoa, amor. - Ela pediu mais uma vez. - Ele não significou nada.

Ele abaixou a calça jeans da garota até os joelhos.

- Amor... - Ela arrulhou. - E beijava a boca do rapaz, seu queixo, seus olhos...

- Se vire. - Ele disse com a voz rouca.

- Safado! - Ela retrucou quase num rosnado.

Francamente, já se esconderam atrás de meu tronco por muitas razões: tocaias, vigias, conspirações... Por isso me deram esse nome desgraçado, mas para uma sacanagem dessas, é a primeira vez. 

Ele beijava as costas da fêmea, sua cintura, nádegas, e ela se contorcia em êxtase, como uma serpente.

E foi então, quando a mão esquerda do rapaz acariciava os ruivos cabelos da moça, que eu vi o brilho da navalha na mão direita, e o sangue jorrar do pescoço dela.

Bom Jesus do Norte, 4/8/2013 - 23h13

Autor: Paulo de Souza Xavier

Numa tarde em 1972

Na esquina da Av. Marechal Rondon, com a Praça São Miguel, bem no centro de Rio Garça, acontecia uma seríssima reunião de moleques.

Os membros da reunião tinham entre 12 e 16 anos. Estavam empenhados em uma vaquinha na intenção de obter certo montante para fazer uma compra na loja em cuja calçada realizava a reunião.

Teteco, de 13 anos, corria a sacolinha. Aqueles que regateavam levavam bronca do Lauro, de 15 anos, sendo avisados de que depois não poderiam desfrutar do produto.

Depois de muita discussão e dos indispensáveis palavrões e xingamentos, conseguiram jujntar a quantia necessária, e encarregaram Jáder, de 16 anos, da compra da mercadoria, pois achavam que o comerciante poderia se negar a vender para algum muito jovem.

Jáder entrou na loja. Pegou um jornal do dia e dobrou de novo. Colocou o jornal sobre o balcão e encarou o vendedor. O homem encarou de volta. Jáder disse que precisava de uma revista para pesquisa escolar. O homem disse o preço. Jáder colocou o dinheiro sobre o jornal. O balconista olhou em volta, pegou uma revista em quadrinhos pornográfica, recolheu o dinheiro e colocou a revista dentro do jornal dobrado. Jáder pegou o jornal e saiu. 

Bom Jesus do Norte, 16/11/2012

Autor: Paulo de Souza Xavier

Desenhos infantis de minha avó, Amélia Luiza Montrezor (1888 - 1971), feitos aos seis anos de idade, em 1894





Liberdade - A fuga para o nada


Fato ocorrido em 11/11/1977 - Quinta-feira

Esvoaçando na pequena gaiola, o pássaro que tão belo cantava, parou diante da portinhola que fora esquecida aberta. E ao ver a liberdade, preciosa e bela, ao alcance, talvez, de suas possibilidades, tentou alçar o voo. Seria o voo da liberdade. Enfim, a liberdade! Estava tão fácil! Era tão maravilhoso aquele momento!

E então, impulsionando-se com as pequenas pernas, e mantendo-se com as asas, lançou-se ao ar. Era a liberdade.

Mas o destino, cruel, todo pretensioso, mostrou que o longo tempo em cativeiro privara o pobre pássaro da bela arte de voar. 

Cruel destino. Em casa, sentado à mesa, próximo à gaiola, ouço o bater das asas e o som chocante de seu corpo batendo no chão. E em um impulso natural, quando tentei, levantando-me, fazer o resgate do desnorteado pássaro, fui obrigado a assistir a uma beleza trágica da natureza: a rapidez e precisão do salto de um gato. O instinto ainda fez com que eu tentasse salvar, agora da gata, o pobre pássaro. E a gata, por decisão da natureza, corre e leva o sabiá consigo. 

Aquele que cantava.

Autor: Ênio Chaves dos Reis - 18/12/1977.

Da Série "Caricaturas"








da Série "Sonhos"





Da série "Eles por Ela"







Da série "Elas por Ela"



O Pau-Ferro está agonizando

Na Praça Gov. Portela, em Bom Jesus do Itabapoana/RJ, existe há mais ou menos 120 anos o Pau-Ferro, gigantesca árvore símbolo da cidade. Até agora ela havia resistido a tudo: tempestades, doenças, vandalismo... Infelizmente não está dando conta da praga branca.

Desde a famigerada reforma da praça, "benesse" do governador Sérgio Cabral, que para a cidade não contribuiu porcaria nenhuma, a árvore está apodrecendo, pois danificaram suas raízes de forma desastrada, e para mim, intencional. Afinal, parece que o objetivo da prefeita. que nem bom-jesuense é, foi destruir tudo o que havia de tradicional na praça, desde as árvores até a miniatura da Usina Franco Amaral, a famosa "Cachoeirinha".

Este é o resultado de se eleger "alienígenas", gente que não tem a menor identificação com o município, e que entra na política sem entender nada de administração, somente com o objetivo de se arranjarem, compensando seus próprios fracassos.

E pelo caminho, ficam as cagadas.


O leilão que fez água

A prefeitura de Bom Jesus do Norte havia programado um leilão de seus veículos sucateados.

Depois, disseram que o leilão seria adiado indefinidamente devido às fortes chuvas.

A verdade? Bem, a verdade é que o leilão foi embargado por ação judicial.

Por quê? Porque estavam nos lotes a serem leiloados, veículos seminovos, com apenas três anos de uso.

Agora, cá pra nós: quem será que estava de olho nos carangos? Hein? Hum?

Assim não há tatu que aguente

Não bastasse o fato de o governo de Bom Jesus do Norte parecer estar empenhado em arruinar a cidade, vem a Natureza com uma ventania dos infernos e arranca pela raiz uma das mais belas árvores da Praça da Matriz. É dose!

As lambanças e suas consequências

Na Rua Lourival Cavichini, também em Bom Jesus do Norte, depois daquela galeria pluvial feita "nas coxas", ficou uma buraqueira só, que agora com as chuvas pesadas está se transformando num conjunto de crateras. - Que os motoristas, pedestres e condutores de outros veículos fiquem de olho, ou levam os diabos.

No Loteamento Brilhante, bem ali em frente, fizeram um início de calçamento que já foi quase todo arrastado pela enxurrada. - Ô servicinho porco, né não?

A caca é dele, o papel higiênico é nosso

A prefeitura de Bom Jesus do Norte alega estar em dificuldades financeiras, e por isso não pode dar aumento ao funcionalismo, que está há cinco anos na seca. E uma das causas dessas dificuldades é o fato de o prefeito estar pagando causas trabalhistas. E sabem por quê? Porque este mesmo prefeito, no primeiro dos seus quatro mandatos, lá atrás, demitiu uma leva de funcionários e deu cano nos direitos dos caras, que tiveram de entrar na Justiça. Agora, certa de 20 anos depois de fazer a merda, por capricho do destino, o mesmo prefeito está sendo obrigado a limpar. Só que aí, meus caros, ele está limpando com as nossas camisas.

Bom Jesus do Norte/ES é lama só!

Quem deve estar adorando a atual chuvarada é o pessoal da Rua Lourival Cavichini, naquele trecho que fica em frente ao Abrigo dos Velhos Padre Gabriel.


E o tal negócio: a gente aqui em cima, na Rua Luiz Dutra de Oliveira,  sem calçamento, fica com as valas abertas pela enxurrada, e o povo lá em baixo, com o lamaçal.

É o ritmo atual de Bom Jesus do Norte: uns no buraco, outros na merda.










sábado, 26 de outubro de 2013

Algumas das frases que mais tenho ouvido na vida

* Eu esqueci.

* Passe mais tarde.

* Não foi culpa minha.

* Vamos deixar para a próxima.

* Olha, se não houver nenhum imprevisto...

* Desculpe, ando todo enrolado.

* Me procure sexta à tarde.

* Você deixou comigo?

* Mas é sobre o quê mesmo?

* Quem disse uma coisa dessa?

* Ihh, rapaz...!

* Pô cara, foi mal!

* Saúde e educação serão prioridades em nosso governo.

* Olhe, está praticamente certo.

* Não é bem assim.

A cota que te pariu

Por: Paulinho Natividade

Cota, o que é?
Parte legitimada de direito?
Ou legítima esmola
de políticos corruptos?
Talvez, os três mosqueteiros
possam legitimar a proeza.
Já que, quem os criou, é negro.
Machado de Assis, 
poetas, loucos, 
seres humanos...
que na pele da cor,
nesse progresso sem ordem,
respondem com obras...
é a cota que te pariu.

Prefeito Ubaldo Martins sofre derrota em Vitória

O prefeito Ubaldo Martins, de Bom Jesus do Norte/ES, que havia entrado na Justiça contra a Lei Municipal que manda pagar o tíquete alimentação ao servidor, alegando ser a lei ilegal, teve sua petição rejeitada pelos desembargadores, em Vitória/ES.

Agora, não sabemos se o prefeito poderá recorrer ao Supremo (o que eu acho que seria ridículo), mas o pagamento ainda depende da Justiça local.

Está de parabéns o Sindserv pela vitória.

Autor: Paulo de Souza Xavier

Os ressentimentos não são lavados pela chuva

Tobias Macário chorava lágrimas escaldantes, que desciam pelo seu rosto de menino, misturadas aos pingos de chuva. Estava escondido entre as bananeiras, nos fundos da casa de um pequeno sítio, distante uns 16 quilômetros de Rio Garça. Era uma tardinha de 1950.

Não era a primeira vez que Tobias teria que dormir no mato. Desde que sua mãe viúva se amigara pela segunda vez, seu calvário tinha começado. 

Tobias havia nascido da união de sua mãe, uma ruiva sardenta de origem irlandesa, com o negro Macário dos Anjos. Sua mãe teve que fugir e se amigar, pois os pais dela não permitiram o casamento de jeito nenhum. E o casal viveu feliz, até que Macário morreu da picada de uma Surucucu. Deixou Tobias com seis anos, e a mãe na maior dificuldade, já que sua família preconceituosa não queria sequer vê-la. Muito menos queriam saber de Tobias, mulatinho café com leite.

Diante da penúria, Loriane - esse era o nome da mãe - aceitou o assédio de Cesário Balduíno, também ruivo, grosseiro, beberrão e mau. Foi aí que o inferno se estabeleceu na vida de Tobias. Espancado por qualquer motivo ou por nada, tinha que fugir e se enfurnar no mato. A mãe, se tentava defendê-lo, ficava com o resto da fúria de Cesário.

Essa situação permaneceu por um bom tempo, até que uma senhora, Matilde Vargas, também viúva, e dona de um sítio vizinho, sabedora da situação, e conhecendo bem a peste que era Cesário Balduíno, pediu a Loriane que deixasse o garoto com ela. Prometeu cuidar bem dele e colocá-lo para estudar. 

Loriane ficou feliz com a proposta. Cesário não fez a menor objeção. Tobias, muito menos.

O tempo passou. 

Tobias, bonito e inteligente, havia conquistado o amor maternal de dona Matilde. Estudou, até concluir o curso ginasial, o que para um mulatinho, naquela época, era uma grande coisa.

Quando contava 18 anos, soube da morte da mãe. Não foi ao enterro. Sempre soubera como Cesário havia continuado a maltratá-la, e não quis se encontrar com ele. Visitou o túmulo depois.

Não quis reivindicar o pequeno sítio de seu pai. Deixou Cesário lá.

Aos 25 anos, perdeu sua segunda mãe, que não tendo herdeiros, deixou o sítio para ele.

Aos 27, Tobias ainda não havia se interessado por casamento, mas gostava de caçar, como o pai.

Cesário Balduíno, após a morte da mãe de Tobias, havia arranjado logo outra companheira, com quem tinha um filho de cinco anos, e dizia-se que gostava muito de bater no garoto.

Certo dia, por volta das 4 da tarde, Cesário seguia a cavalo, quando avistou Tobias perto da estradinha. O mulato estava numa cachoeira do regato que ficava no limite das duas propriedades, limpando uma lebre.

Cesário se aproximou, desmontou, e olhando a pele do coelho, que estava sobre uma laje, exclamou: - mulatinho burro! Estragou o corto.

Tobias continuou limpando o coelho. 

Cesário tornou a rosnar: - você já está barbado velho. Precisa começar a fazer as coisas direito.

E dizendo isso, deu com o rebenque nas costas de Tobias. O mulato apenas contraiu os músculos, e respondeu com a voz mais tranquila deste mundo: - sabe que o senhor tem razão?

E dizendo isso, Tobias virou-se de repente e cravou a faca de caça na garganta de Cesário Balduíno.

Autor: Paulo de Souza Xavier - Bom Jesus do Norte, 24/1/2013

Olegário dos Prazeres e a mão do negro

Tutuca Balbino, rapazola de 14 anos, caminhava por uma estradinha de terra no sítio do Manoel Mutum, com uma arapuca na mão, à caça de juritis. Ia assoviando despreocupado, quando desviou o olhar para a base do barranco, à direita, e sua espinha gelou. Perto de um tronco caído, sendo comida por formigas vermelhas, uma mão humana. 

Embora estivesse se cagando de medo, Tutuca teve a frieza e a presença de espírito de cobrir a coisa com a arapuca, e depois procurou uma pedra; e ao encontrar uma de uns 4 quilos, colocou sobre a arapuca. Feito isso, disparou como se perseguido por todos os diabos em direção à sede do sítio. Chegou lá chamando o Manoel Mutum aos berros.

Mais tarde, Manoel explicava ao detetive Olegário dos Prazeres que não tinha a menor ideia de como aquilo poderia ter ido parar ali na sua propriedade.

O que se ficou sabendo de início, é que se tratava da mão esquerda de um homem negro, e casado. Havia uma aliança de ouro no dedo anular.

Demais detalhes, havia sangue respingado no tronco caído, perto do qual a mão tinha sido encontrada. Mais abaixo, no pasto, um bornal rasgado, sem a alça, com restos de penas de pássaros. 

A mão não estava ali há muitos dias, pois se encontrava em razoável estado de conservação, apesar de bem roída pelas formigas no local do corte, e já estivesse fedendo bastante. 

Devidamente ensacolado, o objeto sinistro foi levado para a delegacia, e imediatamente enviado à perícia.

Mais tarde, quando Olegário dos Prazeres relia os depoimentos, chegou o detetive Lino Frotta, um novato, com novidades.

Na aliança encontrada, como de costume, estava gravado o nome da esposa: Maria Santa da Silva Paixão.

Olegário se levantou no ato e mandou chamar os praças Carmona e Oliveto. Ordenou que pegassem o jipe, pois os três iriam sair em diligência. 

Maria Santa era esposa de Altamiro da Paixão de Cristo, que possuía modestos dois alqueires de terra, 10 quilômetros rio acima. Vivia da agricultura de subsistência e caçava frequentemente.

Havia chovido bastante alguns dias antes, e a estradinha de terra estava um lamaçal só. Mas, como costumava dizer Olegário, o jipe era o jegue dos automóveis, e chegava a qualquer lugar.

Ao chegarem no pequeno sítio, depois de superarem uma meia dúzia de atoleiros, foram recebidos por Maria Santa e uns 10 vira-latas. Perguntaram por Altamiro, e a mulher os conduziu ao interior da casinha simples, onde na sala estava sentado num banco de bambu trançado, Altamiro da Paixão de Cristo.

O negro franzino tinha o braço esquerdo enfaixado, apoiado numa tipoia. Faltava a mão, amputada acima do pulso.

O detetive esclareceu a Altamiro que provavelmente havia encontrado sua mão. Perguntou em que tipo de encrenca o caçador tinha se metido. 

E Altamiro contou: dois dias antes, voltava de uma caçada na Serra Alegre, em que só conseguira abater dois inhambus, que trazia no bornal. Quando passava pelo sítio do Manoel Mutum, resolveu cutucar um buraco de tatu no barranco da estrada. Foi uma atitude idiota, para um caçador experimentado como ele. E não deu outra, foi picado na mão por uma Urutu Cruzeiro, que tinha se apropriado do buraco.

Apavorado, sabendo ser mortal a picada da cobra, deitou fora o bornal com os inhambus, após arrancar a cordinha da alça. Em seguida, puxou o facão afiadíssimo, e usando o tronco caído como cepo, amputou a mão. Amarrou a corda no braço, o mais apertado que pôde. Achava que só não desmaiara pelo agito do sangue. 

Feito isso, saltou sobre o cavalo, e sem pensar, tocou para casa a galope.

Chegando lá, meio grogue, foi socorrido pela esposa, que o fez engolir boa talagada de cachaça. A seguir, como se possuído por um espírito indomável, cauterizou o ferimento, metendo o toco do braço nas chamas do fogão a lenha. Só aí ele desmaiou.

Olegário e os soldados ouviram a história em silêncio, de olhos fixos em Altamiro. Ao final, o detetive comentou que coragem o negro tinha de sobra. Não queria nem pensar se Altamiro resolvesse decapitar alguém. 

O detetive então pediu aos praças para ajudarem Altamiro a embarcar no jipe. Ele estava sendo tratado com remédios caseiros, e se queixava de dor e um pouco de febre. Devia ir para o hospital.

Ao saírem, Maria Santa perguntou a Olegário se poderiam pegar de volta a mão e a aliança. Ele esboçou um sorriso, e disse que depois de tudo esclarecido, não via por que não.

Quando embarcavam no jipe, o praça Carmona disse a Altamiro: - parece que o bicho que encontrou os seus inhambus tinha bom-gosto, e resolveu deixar sua mão por lá.

Altamiro da Paixão de Cristo não possuía só coragem e sangue frio. Tinha senso de humor também, e apesar da dor, soltou uma sonora gargalhada. 

Seguindo em direção a Rio Garça, Olegário dos Prazeres ia matutando: - puta merda! Quando a gente pensa que já viu de tudo nessa vida!...

Autor: Paulo de Souza Xavier - Bom Jesus do Norte, 6/1/2013 

Da série "Surreal"





Da série "No faces"



Da série "Noites insones"