sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Mantendo o fio da memória

Obs.- Conto interligado. Para entender melhor, leia o imediatamente anterior

Desde o dia em que o Zé Lebre matou o Maninho com uma facada na virilha, durante uma pescaria, nunca mais se viu o Didi Cambeva pescando no Rio Garça. 

Didi Cambeva e Maninho foram amigos de infância. Inseparáveis. Sempre juntos, no colégio e nas traquinagens. Se havia briga com um, era com os dois.

Durante a adolescência, ambos perderam as famílias e foram morar com os tios. Mas isso, longe de afastá-los, pareceu uni-los ainda mais. 

Na juventude, chegaram a dividir um barraco na Vila Alta. Nenhum dos dois jamais se casou. 

Já na maturidade, sempre juntos nas pescarias e nas cachaçadas. Num único dia em que não foram pescar juntos, o Maninho se desentendeu com o Zé Lebre por algum motivo besta, e acabou assassinado.

A partir daí só se via o Didi Cambeva sozinho, taciturno, bebericando a sua pinga pelos botecos. Não falava com ninguém. Não pescava mais, não se sabe do que vivia. As poucas vezes que foi visto perto do rio, estava com uma pedra de amolar, afiando a peixeira.

É possível que, deixando de pescar, tenha resolvido caçar. E nunca se sabe quando é preciso esfolar uma lebre.

2/11/12

Autor: Paulo de Souza Xavier

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