sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O canto dos sapos às margens do Rio Garça

17h30. 

Valdemar estava sentado numa pedra à margem do rio há mais de quatro horas. Sua mente queimava, recordando tudo.

Há muito tempo que a Maria Helena vinha despertando suas suspeitas. Desde coisas mínimas, como um sorriso fora de hora, um olhar perdido no nada. Havia também os sumiços inexplicáveis, com desculpas mal costuradas na volta.

Mas Valdemar ia relevando. Desconfiava, mas relevava. Não queria desarmonia em casa.

VEz por outra, pedido de dinheiro para comprar uma coisinha. Valdemar nunca negava. Afinal, ela, moça viçosa, 22 anos, ele, 37; não havia razão para avareza. Valdemar, às vezes, se perguntava por que Maria Helena aceitara seu pedido de casamento. Bem mais velho, trabalhador braçal.

Mas ele sempre achava a compra demais para o dinheiro dado.

Certa feita, quando Valdemar tinha ido cortar umas escoras para a obra na padaria do velho Orestes, acabou voltando cedo, pois caíra chuvarada, e a encosta havia ficado muito escorregadia.

Chegando em casa, nada de Maria Helena. Voltou ao cair da tarde, ainda molhada de chuva, preparou o jantar e não quis conversa.

Alguns conhecidos começaram a fazer piadinhas. De leve. Valdemar optou por ignorar, taciturno como era. Tinha a gente por invejosa, sendo ele casado com moça bonita. Mas, dentro de seu peito, foi crescendo algo que apertava, ameaçando sufocá-lo.

Naquela tarde de sábado, Valdemar havia saído para colher sementes de capim para seus coleiros do brejo, e encontrou Maria Helena e o Joãozinho da Alva na cachoeira. Nus em pelo, e às gargalhadas. 

Agora, Valdemar estava ali, ouvindo a sinfonia batraquiana dos sapos, e sem saber o que fazer da vida.

Mas, no fundo, ele sabia sim. Iria se entregar, embora isso não fosse apagar a imagem dos olhos esbugalhados de terror e surpresa, depois dos golpes de facão.

19/12/12

Autor: Paulo de Souza Xavier

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