o jacaré pantaneiro
alucinado por overdose
de mercúrio
ficou tão doido
que virou bolsa
de madame
as crianças na favela
hoje brincam diferente
esconde-esconde da polícia
cantiga de arrastão
- e para ter mais emoção
driblar bala perdida
o velho aposentado
sentado na praça
olhando a vida passar
- e ela não passa!
- e ele nem tem vida
para poder passar
o surfista ferroviário
destroçado sobre os trilhos
do bonde indiferente
- sua morte foi indolor
o seu sangue nem tem cor
sua vida era dormente
o sol queima o Nordeste
o sol queima os nordestinos
o sol queima seus destinos
é um povo seco que não chora
- e a fome devoradora
já comeu até os seus dentes
nos garimpos clandestinos
pouco ouro muita gente
mas sempre encontramos
algumas pepitas diferentes
- os olhos opacos e sem destino
das prostitutas adolescentes
Autor: Paulo de Souza Xavier - Bom Jesus-RJ, 26/7/1993
Nenhum comentário:
Postar um comentário