quarta-feira, 3 de julho de 2013

A cerejeira de Washington

Não importa

que em Nagasaki e Hiroshima
haja mais mortos
do que se imagina

que existam destroços
de homens
naufragados
no rio Mekong
ou que tantos mutilados
ainda bailam
aos acordes
da Viet-song

se a fome e a ganância
consomem árvores e crianças
na América Latina
e se existem tantos
outros corpos
sem esperança
superdosados
de cocaína

que no terceiro mundo
humilhado
a legião dos descamisados
suporte
martírios sem nome

se o consumismo
engoliu o comunismo

se há corruptos no Congresso
ou se o progresso
destrói a qualidade de vida
se a indústria da morte
está cheia de gente
envenenando a Terra

se a febre do nundo é medida
por termômetros nucleares
megaton por megaton

- em Washington
na primavera
como em todos os pomares
as cerejeiras florescem
sempre

Autor: Paulo de Souza Xavier - Bom Jesus-ES, 25/1/1991

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