Não importa
que em Nagasaki e Hiroshima
haja mais mortos
do que se imagina
que existam destroços
de homens
naufragados
no rio Mekong
ou que tantos mutilados
ainda bailam
aos acordes
da Viet-song
se a fome e a ganância
consomem árvores e crianças
na América Latina
e se existem tantos
outros corpos
sem esperança
superdosados
de cocaína
que no terceiro mundo
humilhado
a legião dos descamisados
suporte
martírios sem nome
se o consumismo
engoliu o comunismo
se há corruptos no Congresso
ou se o progresso
destrói a qualidade de vida
se a indústria da morte
está cheia de gente
envenenando a Terra
se a febre do nundo é medida
por termômetros nucleares
megaton por megaton
- em Washington
na primavera
como em todos os pomares
as cerejeiras florescem
sempre
Autor: Paulo de Souza Xavier - Bom Jesus-ES, 25/1/1991
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